O falso escritor
Escrevia sem parar. Não livros nem mesmo contos. Por vezes nem histórias eram. Nada tinha nem principio nem meio nem fim. Não conhecia artimanhas para atrair o leitor nem sabia como utilizar as espressões correctas para descrever um sentimento ou uma emoção mas isso também não importava. O seu unico público era ele mesmo quando voltava a ler esses textos anos mais tarde. Muitas das palavras eram apagadas antes mesmo de as reler. Sabia que não tinham valor. Tudo o que escrevia era lixo. Literal e figurativo. Não escrevia algo real nem inventado. Tudo o que saia da sua caneta vivia num eterno limbo entre a existência e a imaginação.
Nunca olhou para si como um escritor. Não ele. Não alguém que sempre olhou com desdém para as humanidades e para as disciplinas não exactas. Dois mais dois sempre foram quatro e se alguém escreve que o céu é azul é porque o céu é azul. Não há mais nada a discutir ou argumentar. Mas apesar disso continua a escrever. Não por gosto nem paixão mas por necessidade.